quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Heróis do Olimpo (?)

Cerimônia de encerramento
Passada a euforia dos Jogos Olímpicos chega a hora do inevitável
(e reconhecidamente chato) balanço do evento. É como uma ressaca depois de uma grande festa. Algumas lembranças boas, outras nem tanto. Mas, recordar é viver - então vamos lá!

Do ponto de vista da organização parece que não há o que reclamar. Os ingleses são irritantemente organizados. Mesmo assim, deram algumas mancadas, como no caso da bandeira da Coréia do Norte e outras situações constrangedoras.
Mas, no geral, eles foram excelentes. As instalações (ou "equipamentos", como estádio, ginásio, parque aquático, etc) não tinham a exuberância que tiveram em Pequim,  mas eram perfeitamente compatíveis com a grandeza dos Jogos. Some-se a isso uma gestão eficiente e uma logística perfeita e tem-se o tamanho da responsabilidade que recai agora sobre o Brasil, de um modo geral, e ao Rio mais especificamente. Tradicionalmente, a próxima sede busca superar a sede anterior. Veremos...

Entrando na seara esportiva Londres também rendeu belíssimos momentos. Recordes foram quebrados, limites foram superados e o objetivo maior do espírito olímpico foi alcançado: o congraçamento entre os povos e nações do mundo através do esporte. Coubertin ficaria orgulhoso. Alguns ídolos confirmaram seu favoritismo, como Bolt e Phelps. Outros, como Isinbayeva e Bekele não conseguiram manter-se no degrau mais alto do pódio. Mas saíram de cena já como heróis olímpicos.

Mo Farah em êxtase no Estádio Olímpico
Surgiu algum novo ídolo mundial em Londres? Talvez Mo Farah, com sua história pessoal fantástica e a consagração olímpica diante do povo que o acolheu. Quem sabe Pistorius e a sua superação pessoal, embora polêmica (lembrando que mais de 100 anos atrás o alemão naturalizado americano Georg Eyser ganhou algumas medalhas olímpicas competindo com uma perna de pau). O arqueiro sul-coreano cego também entraria nessa categoria. Mas algum nome que mereça o título de herói olímpico? De ídolo mundial?

Phelps e Bolt já eram grandes ídolos e "apenas" confirmaram seu status. Bolt foi a Londres com o objetivo de tornar-se uma lenda. Não quebrou seus próprios recordes, mas provavelmente alcançou a sua meta. Phelps, é um caso a parte. A mídia tem o tratado como o maior atleta da história dos Jogos Olímpicos. Mas, será mesmo? É o número de medalhas que determina a grandeza de um esportista?

Não creio que Phelps seja o maior da história. Nem mesmo que Larissa Latynina, a antiga detentora do recorde de medalhas, tenha sido. Sem dúvida, estão entre os grandes. Mas, Gabriela Andersen, que chegou extenuada ao final da maratona de Los Angeles, em 84, também está nessa galeria. Mesmo tendo chegado em 37º lugar.

É claro que os números estão intimamente ligados ao esporte: horas, segundos, minutos; altura, distância; pontos, gols, etc., tudo se mede em números. Mas não se resume a eles. Por isso, talvez o choro sincero do ugandês Stephen Kiprotich, vencedor da maratona, valha tanto quanto as 22 medalhas do americano Phelps. Talvez...

Falando em medalhas, EUA e China travaram uma disputa que extrapola o âmbito esportivo. A confirmação da supremacia olímpica americana, conquistada nos últimos dias, tem um componente geopolítico interessante: se a China, potência em ascenssão, ficasse na frente no quadro de medalhas, estabeleceria um simbolismo fortíssimo no xadrez mundial. Foi por pouco, quem sabe no Rio...

E, por falar em Rio, claro, tem-se que falar do desempenho dos atletas brasileiros. Boas surpresas, como os irmãos Falcão. Judô, vôlei e vela mantendo a tradição de trazer medalhas. E algumas decepções. Talvez a mais ilustrativa delas seja a de Fabiana Murer. Não por ter perdido a chance de conquistar medalhas. Mas por sequer ter tentado.
Fabiana após a eliminação

Claro que fazer essa crítica sentado confortavelmente em uma poltrona é até uma cretinice. Mas, ainda assim, é preciso destacar esse fato pelo que ele representa. Fabiana é uma atleta excepcional. É dela o título da campeã mundial, atualmente. Dizer que ela sequer tentou talvez seja injusto, mas não está tão longe da realidade. A atleta alegou que o vento forte na hora de seu salto poderia provocar uma queda caso ela insistisse em saltar... Poderia. E esse é o ponto. Aos atletas brasileiros falta justamente essa dose de confiança, de "sangue no olho", de atitude!

Ricardinho, levantador da seleção brasileira de vôlei, resumiu bem a questão: "faltou cabeça". Ele se referia à partida na qual o Brasil, depois de estar vencendo de 2 x 0 sets e estar a um ponto da medalha de ouro, levou uma virada histórica da Rússia e acabou com a prata. Mas o diagnóstico se aplica a todos os outros casos em que "faltou cabeça" aos atletas brasileiros. Do futebol melhor nem falar...

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