Muitos foram surpreendidos hoje
com a notícia de que o nome da bola oficial da Copa do Mundo 2014 será definidono domingo (02/09), durante o programa Esporte Espetacular. A votação já está
aberta há algum tempo e os três nomes finalistas são: Bossa Nova, Carnavalesca
e Brazuca. Não, não é brincadeira, as opções são essas. Só essas!
Passado o susto inicial com as
alternativas que temos, fiquei pensando no que representa o nome da bola em um
evento como a Copa do Mundo, aguardado e assistido por todo o planeta. E quero
compartilhar minhas impressões, até para ter certeza de que sou o único que
achou infelizes essas três possiblidades.
Primeiro, é importante
contextualizar o papel da bola durante a história das Copas. Por paradoxal que
pareça, a bola nunca foi protagonista nos torneios até a Copa de 70, no México.
Até então, as bolas não passavam disso mesmo: bolas. Eram feitas de couro,
toscas, da cor marrom, duras, com a costura exposta (durante as primeiras Copas
era comum o uso de faixas ou gorros, pois as costuras da bola causavam lesões
sérias em quem se arriscava a cabeceá-la).
Mas no México houve uma inovação.
No futebol? Não! Na televisão. Pela primeira vez a Copa do Mundo seria
transmitida em cores. Hoje, com televisores 3D e tudo mais isso parece uma
bobagem, mas para a época foi uma revolução. Assim, a bola merecia uma nova
roupagem. Finalmente, lhe seria dado o devido destaque. Surgiu então a TELSTAR
(não por acaso, “estrela da televisão”). Com 32 painéis (ou gomos) costurados a
mão, a bola tinha uma circunferência perfeita. Ou seja, era redondinha. Em 74,
a TELSTAR apareceu novamente, sem muitas modificações.
Na Copa da Argentina, em 1978, o
nome da bola passou a ser mais conceitual, trazendo elementos que
identificassem o país sede. O nome não poderia ser outro: Tango. Dessa vez eram
20 painéis, com desenhos que formavam 12 círculos. Uma bola linda. Foi a matriz
para as que vieram depois. Em 82, na Espanha, a bola foi a TANGO ESPAÑA,
exatamente igual a anterior.
Novamente no México, em 1986, a
Copa do Mundo foi jogada com a AZTECA, um nome muito bacana, com desenhos
lembrando o antigo povo que habitou o país. Em 90, na Itália a bela ETRUSCO
UNICO deixou sua marca. Em 1994, na Copa dos EUA, a bola foi a QUESTRA. Tinha
algumas inovações tecnológicas que a deixaram mais suave, mais veloz e mais
sensível (Baggio que o diga).
Em 1998 a bola foi, a TRICOLORE,
inspirada obviamente na bandeira da França. Era toda fashion e também trazia
algumas inovações como uma espuma sintética, enchimento de gás, fechamento
individual e “micro balões altamente duráveis” seja lá o que isso signifique.
Em 2002 a Adidas, fornecedora
oficial das bolas da Copa, abandonou o design Tango. A ultra moderna FEVERNOVA
tinha um conceito mais “asiático”. Não era tão bonita como as Tango, mas quem
(como eu) teve oportunidade de jogar com ela sabe que era um filé. Muito
gostosa!
Na Copa da Alemanha, em 2006, a
Adidas “jogava em casa” e quis apresentar uma bola revolucionária no design e
na tecnologia. Nascia a TEAMGEIST, cheia de inovações que não deram lá muita
sorte para a seleção brasileira.
A JABULANI, em 2010, foi uma das
bolas mais comentadas da história. Não porque fosse a melhor ou mais bonita,
mas porque era muito difícil de controlar. Aqui no Brasil ficou famoso o bordão
“Jabulaaaaaani” na voz fantasmagórica de Cid Moreira, cada vez que um jogador
lançava a bola na arquibancada.
Agora, cá estamos nós, decidindo
entre Bossa Nova, Carnavalesca e Brazuca. Então vamos analisar cada uma das
nossas opções.
Bossa Nova
Mesmo que o ritmo não seja uma
unanimidade, é fato que a Bossa Nova é uma espécie de mito fundante da Música Popular
Brasileira. Mas, qual é a primeira relação que se faz quando pensamos em Bossa
Nova? Rio de Janeiro, praia, “um barzinho
um violão, esse amor uma canção”... O que quero dizer com isso é que o nome
remete a UM aspecto do Brasil e não ao país como um todo. As Olimpíadas serão
no Rio - A Copa será no Brasil! Acho injusto com o resto do país, que também
tem manifestações culturais riquíssimas, um nome que “privilegie” uma cidade (e
um conceito) em particular.
Carnavalesca
Nem merecia comentários. Se fosse
Carnaval, ainda vá lá, mas Carnavalesca? Mas vamos lá... A Copa do Mundo será
(?) uma bela oportunidade para o Brasil demonstrar que não passamos o ano
inteiro pelados pulando ao som de escolas de samba. Mais uma vez, a ligação
direta que se faz é com o Rio e todo o seu contexto. Antes que me acusem de não
gostar do Rio eu digo que adoro. A questão não é essa. O país tem um estereótipo
fortemente consolidado no exterior que, certamente, não condiz com a nossa
realidade. Gostamos de festa e carnaval sim, mas somos muito mais do que isso.
Assim como Bossa Nova, Carnavalesca só reforçaria a imagem que já temos. Será
que não queremos que ela seja mais forte, mais verdadeira?
Brazuca
É o menos pior dos três nomes.
Ainda assim acho ruim (cara chato, né?). Remete um pouco ao “sou brasileirÔ, com muito orgulhÔ, com
muito amÔooor”. Conceitualmente é bacana. O que incomoda é que a Copa do
Mundo é... do Mundo! Não é só dos brasileiros. Os nomes das outras bolas
remetiam à cultura e à identidade dos países sede, mas não eram tão
descaradamente ufanistas assim. “Qual a tua sugestão então, mala?”, devem estar
falando....
Bueno, se eu pudesse decidir o
nome seria PAMPA. Ah, não gostou é? Pois é, Pampa poderia fazer muito sentido
para os gaúchos (como eu) para os Uruguaios e Argentinos. Mas e para o resto do
Brasil? E para o resto do Mundo? O que significa Pampa... Pois, é!
Assim, um nome que, embora
estereotipado, representaria o Brasil muito bem é SAMBA. E tem tudo a ver com
futebol.
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